terça-feira, julho 07, 2009

Estranha forma de fazer politica ou a crónica de uma imprensa em crise de identidade

Constança Cunha e Sá afirma em artigo publicado no Correio da Manhã que o "programa do PSD está em risco de se transformar num dos maiores mistérios da próxima campanha eleitoral."

Com efeito, a cúpula do PSD percebeu que tinha tudo a ganhar em manter o seu programa eleitoral debaixo do tapete mediático e tem-no conseguido...sem grande esforço.

Discutiu-se durante muito tempo a boa imprensa de que o actual Governo gozava e do quão anómalo se tratava. No entanto, com o ressurgimento do Processo Freeport para a agenda política (mais do que para a agenda judicial) os media perceberam que o Governo de Sócrates era atacável. E logo correram a explorar este filão, à boa maneira sensacionalista mas com uma impressão sóbria.

Assim se apresentam hoje os jornais de referência em Portugal.

Neste registo, as capas rendem mais com Sócrates do que com Manuela Ferreira Leite. Sócrates, como bom político que é, desperta muito mais paixões e ódios que Ferreira Leite. Assim, julgou-se ser económica e editorialmente irrelevante reportar as incongruências, os silêncios, os enganos de Manuela Ferreira Leite em relação ao seu projecto político e às suas convicções (como exemplo, veja-se que nenhum jornal de grande tiragem publicou a declaração chocantemente desfasada da realidade que a presente crise internacional não passava de um - e cito - "abalozinho de terra").

Constança Cunha e Sá denuncia-lo abertamente: "Ainda há uns dias, a drª. Ferreira Leite ameaçou 'rasgar e romper' com todas as soluções adoptadas por este Governo. Enquanto o país, dando largas à imaginação, tentava assimilar as consequências fulminantes desta inesperada ruptura, eis que lhe aparece, pela frente, o dr. Borges a explicar, cheio de moderação, que uma vez no poder o PSD não iria 'riscar' tudo o que foi feito até aqui. É o que se chama a ruptura dentro da continuidade: rompe, rasga mas não risca. Contraditório? No mínimo. Só que agora ninguém regista."

A grande curiosidade é perceber se os jornais se manterão nesta onda sensacionalista e superficial que, na era da informação, desinforma e deforma com licença para operar.

Se continuarem nesta senda, deviam perceber que os portugueses nada gostam mais do que um pássaro ferido que se ergue nos momentos mais difíceis. Aí Sócrates poderá protagonizar o fim desta novela jornalística como o herói, atingindo a redenção.

É que por agora os meios de comunicação já elegeram o alvo a abater e até escolheram a sucessora. Estranha forma de fazer política esta impressa em tipografias.

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