quinta-feira, novembro 01, 2007

Os rankings das escolas

Foi realizado um estudo que diz quais as melhores escolas do país. Este estudo coloca nove estabelecimentos de ensino privado nos dez melhores a nível nacional. Este estudo, ao contrário do que muitos fazem questão de apregoar, não nos diz onde se encontram os melhores alunos. Este estudo diz-nos quais são os estabelecimentos de ensino que apresentam maior equilíbrio de notas dos alunos.
Alguém com um mínimo de atenção que seja sabe que a esmagadora maioria dos génios, os grandes alunos, não se encontram nos liceus privados, mas sim no ensino público. É no ensino público que vemos alunos com 18's, com 19's e com 20's. 18's, 19's e 20's esses que até deviam valer por 21's, 22's e 23's, tendo em conta que as qualidades do ensino público são adversas para a prossecução dos fins que as escolas devem atingir. Também são estes estabelecimentos que apresentam muitos alunos com notas de 1, 2 e 3. São estes estabelecimentos que apresentam mais alunos com reprovação por faltas. Ou seja, existe um desequilíbrio maior entre alunos do ensino público do que entre alunos do ensino privado. Qual será o verdadeiro fundamento para termos estes resultados? Serão as escolas públicas que têm professores miseráveis e as privadas têm melhores professores? Será que são mesmo estas escolas privadas que são fabulosas e as públicas não o são? Serão as condições que existem na escola? Porque é que no ensino privado se conseguem cativar os alunos e no ensino público nem por isso? Porque é que no ensino privado, se é assim tão bom, a esmagadora maioria dos alunos não é genial? Para alunos razoáveis que não apresentam uma igual percentagem de resultados negativos como os do ensino público, ver que a média num liceu privado, onde se pagam largas centenas de euros por mês, não é superior a um simples 13,5 (que pouco mais dá do que para entrar na Faculdade de Letras e hoje ainda na Faculdade de Direito), só mostra que a esmagadora maioria dos alunos são alunos banais! Temos é alunos mais homogéneos do que no ensino público, onde se vê um 20 na mesma turma onde se vê um 3. Pergunto: serão os alunos de ensino público mais estúpidos que os do privado? Afinal, porquê estes resultados?!
Na minha opinião, estes resultados não são mais do que a representação do perfil dos alunos, perfil esse que começa a ser traçado quando estes ainda são meros fetos. É ainda a representação das condições educacionais e de formação dos alunos. Como funciona isso? Todos nós sabemos que o perfil e o carácter do ser humano começa a ser traçado ainda antes deste nascer. Uma mãe que fume muito, ou que exponha o seu filho ao fumo, um pai que discuta com a mãe, uma mãe que se stresse com facilidade, etc, são situações que condicionam o desenvolvimento de um ser humano recém chegado.
À medida que a criança vai crescendo vai expondo-se a meios onde nem sempre as condições a favorecem: ambientes de violência, discussões, ameaças, pressão, falta de educação, falta de apoio e preocupação dos pais, etc. Esse resultado vai acabar por se manifestar na escola: aumento do abandono escolar, reprovações, despreocupação com o sucesso académico, falta de ambição, preocupação com os problemas do dia-a-dia, desconcentração, etc.
Por outro lado, existem outros que não têm tantos problemas em casa, e ainda existem aqueles que conseguem resistir às adversidades. Porém, para se resistir a elas, não basta vivê-las, há que aprender a resistir-lhes!
Normalmente, crianças que estudam no ensino privado, são crianças que apresentam menos carências, face às do ensino público: desde logo nas condições económicas. Quem tem condições para pagar uma boa escola a um filho, tem dinheiro para suprir outras necessidades que nem todos no ensino público têm. Até mesmo em parte necessidades afectivas: não estão o pai presentes, mas está a ama, a tia, ou a avó, cujo nível cultural lhe permite fazer de segunda mãe. Não estou a dizer que quem está no ensino privado não tem discussões, não tem adversidades. Aliás, tem as mesmas que as dos restantes seres humanos. No entanto, a forma de reacção e o nível de reacção às mesmas é completamente diferente. Um casal com pouca formação não reage da mesma maneira aos problemas como um casal com alguma educação reage. É completamente diferente e todos sabemos disso. O resultado acaba por se reflectir nos filhos e o resultado nos filhos acaba por dar frutos (ou não) na escola.
Alunos com diferentes tipos de problemas sociais revelam uma concentração na escola completamente diferente. É por isso que alguns no ensino público têm excelentes notas e outros notas desastrosas. É por isso que no ensino privado são mais equilibrados.
Este ranking não é o ranking das melhores escolas. É apenas o ranking da maior homogeneidade de alunos num mesmo meio. Se no ensino público existem 3 alunos com boas condições de educação e formação, por cada turma de 30 (e daí o desequilíbrio), no ensino privado existem 25 por cada 30, e daí o equilíbrio de notas.
O problema para resolver esta questão não passa só por dotar as escolas públicas de meios equivalentes aos do ensino privado. Ter quatro paredes cheias de tecnologia, mas não ter cabeça para receber o que nos é dado, é completamente inútil. O problema passa pelos próprios pais e pela formação que dão aos filhos! É aqui que o Governo tem que intervir primordialmente. Ajudá-los a passar com faltas, ou com o Novas Oportunidades, não é a solução mais eficaz. A solução passa por saber adequar as famílias aos interesses dos mais novos. O meu filho que hoje é pobre como eu, amanhã poderá ser um grande médico, um grande engenheiro, um grande advogado, um grande líder deste país! Temos que criar condições para educar e formar os jovens, pois só assim eles poderão apresentar bons resultados nas escolas, na sua vida profissional e até na sua vida afectiva! Porque é que acham que os jovens se começam a dar com más companhias? Porque é que acham que os jovens do ensino público conseguem apresentar piores resultados que qualquer outro do ensino privado e outros do ensino público? Será por serem mais estúpidos? Não me parece!
Este ranking demonstra que os ricos são mais inteligentes que os pobres, só porque pagam um bom colégio? Não. Este ranking demonstra que jovens com formações de carácter diferentes atingem mais dificilmente o sucesso, quando este se manifesta como um todo. Como tal, só aceito estes resultados se mudarem substancialmente o título deste ranking. Se este estudo visou descobrir quais são as melhores escolas do país, então falhou redondamente. Não é através de uma média geral que se descobre quais são as melhores escolas. Além do mais, não devemos esquecer certas escolas que inflacionam as notas dos seus alunos já para poderem estampar o seu nome no topo destes rankings e os poderem privilegiar no acesso à faculdade. Afinal, todos nós sabemos que o ensino privado, independentemente de atingir a função de ensinar ou não, mais não é do que um negócio. Ninguém decide abrir um estabelecimento de ensino para bem servir a comunidade além do Estado e da Santa Casa da Misericórdia, e o Estado só o faz porque a isso está obrigado.
O ensino público é uma sobrevivência. Mais do que ensinar matemática e português, dá autênticas lições de vida e essas não há nenhum estabelecimento de ensino privado que dê com a mesma qualidade que o ensino público. Sempre estudei no ensino público e só tenho a agradecer a formação de vida que recebi. Claro que nem toda ela foi perfeita e certas coisas eu poderia dispensar. Para um filho meu, sem dúvida alguma que lhe darei a possibilidade de estudar no ensino privado até ao 9.º ano de escolaridade, onde poderá estudar de uma forma mais tranquila, presumo. Mas o ensino secundário será num estabelecimento público e disso não tenho a mínima dúvida! Sem sombra de dúvida que o preparará mais para vida do que o ensino privado e os professores são tão bons como no ensino privado. Professores bons e professores maus todos os estabelecimentos de ensino têm, sejam públicos ou privados. Não será por aí que o meu filho será um mau aluno, espero eu.

1 comentário:

Pedro Sá disse...

A conclusão do privado até ao 9º ano é absolutamente contraditória com todo o restante post.