domingo, julho 15, 2007

Eleições em Lisboa (parte II)

Finalmente sabem-se os resultados. Se alguém temia surpresas, já se desfizeram as dúvidas. Para infortúnio de alguns, não foi António Costa que ganhou. Sim, foi o que teve mais votos, mas não foi o Costa que ganhou. Também não me venham com clichés como "foi Lisboa que ganhou". Não. Lisboa teve uma derrota esmagadora. Maior que a do PSD e do CDS juntos. Lisboa perdeu e, com isto, perdemos nós lisboetas. Quem ganhou estas eleições foi o sistema. Mais um passo rumo ao Regime que José Sócrates pretende instaurar num Portugal adormecido.
Também não foi Fernando Negrão que perdeu. Além de Lisboa, quem perdeu foi o PSD. O PSD vive há bastante tempo com um fenómeno de incapacidade acidental. Incapacidade acidental essa que foi provocada por Marques Mendes e hoje está transformada numa incapacidade permanente. Podemos dizer que é um género de meio termo entre uma interdição e uma inabilitação. Ia mais para a primeira. Tendo sido decretado tutor do PSD, não só provocou esta incapacidade no Partido, como esbanjou os bens mais preciosos do seu património: a força, a capacidade, a liderança. Digamos que Marques Mendes é um género de Manuel Damásio do PSD. Pegou num partido tremido, mas ainda em pé, e conseguiu fazer-lhe uma valente rasteira, fazendo-o cair. Não se dando contente com a queda, dizia com a boca que o queria levantar, mas fazia (e ainda faz) questão de lhe dar mais uns pontapés.
Quanto a Lisboa, de cada vez que me disserem que o povo do Norte é tacanho e ignorante, vou ter que os recordar do dia 15 de Julho de 2007. Antes que encham a caixa de comentários com críticas a esta frase a propósito das gentes do Norte, deixem-me explicar. Eu sei que as pessoas no Norte não são ignorantes, apesar de se propagar no Centro e no Sul do País que o povo do Norte tem este defeito, é tacanho, bruto, provinciano, campónio, etc. Pois bem, podem ter os defeitos que têm, mas não são burros, nem estúpidos! No Norte, muitos problemas resolvem-se à cajadada e ao punho. Em Lisboa vive-se de burocracias e de cortesias, que mais não são do que hipocrisias. No Norte, o sistema não teria ganho, nem que António Costa fizesse trapézio ou corresse todo nu na Foz, nos Aliados, ou noutra cidade qualquer situada no Norte do País. Não só tal não acontecia, como ainda seria corrido à pedrada.
O povo de Lisboa (no qual me incluo, mesmo não tendo votado) é burro ao ponto de saber que votar no PS e em António Costa é votar no sistema e é fortalecer o Regime de Sócrates que aos poucos se vai formando, e mesmo assim decidir votar nele. Não vale como desculpa a falta de informação em Lisboa, ou a pouca formação dos lisboetas. Vale apenas a sua idiotice ao colocarem lá um homem cujo único destino aceitável deveria ser a junta de freguesia de Socorro, através da qual poderia liderar a zona do Martim Moniz.
Por outro lado, verdade seja dita, não existem alternativas válidas. Dos restantes seis mais votados, não há um único que se aproveite. Ou são arguidos, ou estão lá por birra e teimosia, ou então estão lá para destruir as ideias de quem está no poder e arranjar uns tachos para amigos e família.
Ainda assim, os lisboetas tinham obrigação de votar num dos candidatos que gozassem de menos popularidade e nunca tiveram uma oportunidade, como forma de contestação ao sistema, ou então para dar essa mesma oportunidade de trabalhar a quem não a teve. Na falta disso, tinham o voto nulo. A abstenção não é solução, e o voto em branco fica para os cobardes que não têm coragem de expressar a sua opinião. Uma coisa é certa: António Costa nunca! Jamais! Carmona, tão-pouco. Negrão, nem pensar. Roseta, em ocasião alguma. Rúben Carvalho, nem por sombras. Sá Fernandes, nem comento. Telmo Correia, não preciso dizer nada.
O povo de Lisboa teve nas suas mãos uma grande oportunidade de manifestar a sua indignação face ao PS, mostrando-lhe um cartão vermelho. Não só não fez isso como deu motivos para Sócrates e companhia governarem como têm feito até agora e seguirem a sua marcha triunfal, e não deram ao Presidente da República o abanão que este precisava para agir contra o novo Regime. Com estes resultados, ninguém poderá contestar a passividade de Cavaco Silva. Na verdade, o PR limita-se a representar os portugueses e os portugueses mostraram que querem o PS. E não foram meia dúzia deles. Foram os portugueses da capital portuguesa. Os portugueses da cidade com maior densidade populacional. Os portugueses da cidade das oportunidades em Portugal.

4 comentários:

Ghostinhas disse...

"Perdemos nós, lisboetas?" Mudaste de casa, gajo ??? JÁ NÃO ÉS MEU VIZINHO MORCÃO??? Eu que te apanhe na estação do Pragal, és linchado :p

ATG disse...

Sim. Nasci em Lisboa e só venho à Margem Sul dormir, passando o resto do dia em Lisboa, como tal... "perdemos nós, lisboetas", no qual me incluo.

Ghostinhas disse...

Bom, por esse ponto de vista, tenho de perguntar por aí quando se realizarão as eleições municipais em Paris... ´tou tramada... :s

ATG disse...

Não me digas que passas 18 horas por dia em Paris e vens todos os dias dormir à Margem Sul... tens que dizer como se faz :)